Nos últimos anos, é comum ouvirmos que a tecnologia, com seus avanços exponenciais, está ameaçando empregos. Máquinas cada vez mais sofisticadas, sistemas automatizados e inteligências artificiais capazes de realizar funções complexas são, para muitos, os vilões do desemprego em massa.
No entanto,
a verdadeira pergunta é: seriam realmente as tecnologias as responsáveis por
essa realidade? Ou estaríamos testemunhando uma transformação impulsionada por
interesses humanos guiados por uma visão ideológica específica, que coloca o
lucro e a acumulação de capital acima do bem-estar social?
O papel
da tecnologia: progresso ou regressão social?
A
tecnologia, em sua essência, deveria ser um instrumento para elevar a qualidade
de vida, democratizar o acesso a serviços e promover o bem-estar coletivo. As
invenções ao longo dos séculos provaram como a tecnologia pode ser uma força
poderosa para resolver problemas sociais e econômicos.
Se bem
utilizada, ela poderia aliviar o trabalho árduo, possibilitar mais tempo livre
para o desenvolvimento pessoal e melhorar as condições de trabalho.
Contudo, na
prática, as tecnologias muitas vezes não cumprem essa função. Em vez de gerar
condições de trabalho mais humanas, a tecnologia, sob o comando de interesses
mercantilistas, transforma-se em um instrumento de exploração e exclusão.
Em um
sistema que prioriza o lucro acima de tudo, ela é apropriada para maximizar a
eficiência em benefício de poucos, enquanto empurra muitos para a margem do
desemprego e da precariedade.
As decisões
dos "donos" da economia
Os avanços
tecnológicos não tomam decisões. Máquinas e algoritmos são incapazes de decidir
como os empregos serão distribuídos ou eliminados. Quem realmente decide são
aqueles que controlam o capital e que veem a tecnologia apenas como uma forma
de maximizar lucros.
Por trás de
cada automação que substitui um trabalhador, há uma escolha estratégica,
ideológica, baseada na visão capitalista de que a economia existe para
enriquecer acionistas e investidores, não para sustentar o progresso social.
Essa visão
reducionista sobre o papel da economia resulta em um ciclo vicioso: os lucros
gerados pela automação, em vez de serem redistribuídos para melhorar a
qualidade de vida da maioria, vão para os bolsos de uma minoria.
Essa elite
não enxerga a tecnologia como um instrumento de transformação social, mas
apenas como uma ferramenta para aumentar sua própria riqueza, sem se preocupar
com o custo humano.
Uma questão
de visão ideológica
A raiz do
problema está, portanto, na ideologia que governa o sistema econômico. Na
economia capitalista, o valor do ser humano é constantemente medido em termos
de produtividade e capacidade de gerar lucro.
Nesse
contexto, a tecnologia é apenas um meio para maximizar essa capacidade,
independentemente das consequências sociais. A questão do desemprego, então, é
encarada não como um problema social, mas como um "custo aceitável"
para a evolução dos lucros.
Essa visão é
sustentada por uma ideologia que enxerga o progresso como sinônimo de
crescimento econômico para os mais ricos, desconsiderando o verdadeiro
propósito que deveria guiar o desenvolvimento tecnológico: melhorar a vida de
todos.
Com isso,
perpetua-se a lógica da exploração, na qual o bem-estar de uma sociedade
inteira é sacrificado em nome do enriquecimento de poucos.
Um futuro
alternativo: a tecnologia a serviço da humanidade
Um uso ético
da tecnologia exigiria uma mudança radical nessa visão. Ela poderia ser
utilizada para redistribuir trabalho, reduzir jornadas e proporcionar a todos
mais qualidade de vida.
Poderíamos,
por exemplo, imaginar um sistema onde, em vez de destruir empregos, a automação
ajudasse a criar uma nova economia voltada para o bem-estar coletivo, com a
diminuição das horas de trabalho e a ampliação de programas sociais.
Contudo,
para isso, precisaríamos de uma reestruturação completa da economia, de modo a
romper com a ideologia que vê a tecnologia como um mecanismo de acumulação
desenfreada.
Isso só é
possível em uma sociedade que enxergue a economia como um meio para o progresso
social, e não como um sistema para sustentar o enriquecimento de uma elite.
Conclusão:
a luta pelo controle social da tecnologia
Dizer que a
tecnologia ameaça empregos é ignorar a verdadeira questão. A tecnologia pode
tanto ser uma bênção quanto uma maldição, e isso depende de como ela é
utilizada. A decisão de explorar a automação como um instrumento de exclusão é
fruto de escolhas humanas, tomadas por uma classe dominante que utiliza a
tecnologia como instrumento de poder e controle.
O verdadeiro inimigo não é o avanço tecnológico, mas o sistema ideológico que o utiliza para explorar e oprim. Para que a tecnologia se transforme em uma força realmente benéfica, precisamos lutar pela democratização de suas decisões e, acima de tudo, por uma mudança de perspectiva. Afinal, a tecnologia é neutra; o que a define são as intenções humanas que a controlam.